A sustentabilidade industrial não é apenas uma meta — é uma responsabilidade. Mas, para que essa responsabilidade se traduza em práticas reais e efetivas, ela precisa de um ingrediente-chave: transparência.
Sem dados claros, verificáveis e acessíveis, não há sustentabilidade que se sustente. E é nesse ponto que a Indústria 4.0 entra como protagonista.
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Quando a transparência falta, surgem os conflitos
Tomemos como exemplo o caso recente da construção de uma fábrica da Red Bull, próxima à Berlim. O projeto enfrentou resistência pública devido à suspeita de desmatamento. O problema central não foi apenas ambiental — foi comunicacional. A ausência de informações claras e antecipadas sobre o impacto ambiental do empreendimento gerou desconfiança e protestos.
Se relatórios públicos com dados técnicos estivessem disponíveis desde o início, o debate poderia ter sido mais construtivo. A discussão sairia do campo emocional e migraria para o terreno objetivo: quantos hectares seriam afetados? Que tipo de vegetação? Haveria compensação?
isso é o que a transparência baseada em dados pode proporcionar.
Indústria 4.0: o caminho para a rastreabilidade e a prova digital
As tecnologias da Indústria 4.0 — como Internet das Coisas (IoT), blockchain, Big Data e certificações digitais — permitem que empresas monitorem em tempo real seus processos, capturem dados confiáveis e, mais importante, os compartilhem de forma acessível.
Por exemplo, sensores em uma linha de produção podem medir emissões e consumo energético minuto a minuto. Esses dados podem ser registrados em blockchain, garantindo rastreabilidade e inviolabilidade. Isso é especialmente poderoso em cadeias de suprimento complexas, onde comprovar a origem sustentável de matérias-primas é um diferencial competitivo — e ético.
Regulação e tecnologia: uma aliança necessária
Na União Europeia, empresas já são obrigadas a apresentar relatórios ESG (ambiental, social e governança). Mas ainda faltam mecanismos de verificação em tempo real, o que torna o sistema vulnerável a manipulações ou omissões. A boa notícia é que a Indústria 4.0 oferece exatamente essa capacidade.
Já o Brasil adotou os padrões internacionais IFRS S1 e S2, desenvolvidos pelo ISSB, para a elaboração dos relatórios ESG. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) publicou as Resoluções 217 e 218 em outubro de 2024, estabelecendo a obrigatoriedade para as companhias abertas.
Governos e entidades reguladoras podem — e devem — exigir comprovação digital de sustentabilidade, não apenas declarações de intenções. Com isso, cria-se um novo padrão de responsabilidade, onde dados substituem discursos.
Transparência como ativo de mercado
Ser transparente não é apenas uma obrigação ética — é também estratégia de negócios. Empresas que adotam tecnologias para comprovar suas ações sustentáveis ganham a confiança de investidores, parceiros e consumidores.
Voltando ao exemplo da Red Bull: se a empresa tivesse usado ferramentas de transparência digital desde o início do projeto, poderia ter evitado o desgaste reputacional e engajado a comunidade local de forma mais eficaz. A credibilidade se constrói com provas — e a tecnologia oferece os meios para isso.
Menos greenwashing, mais sustentabilidade de verdade
Segundo uma pesquisa realizada pela PwC, 98% dos investidores brasileiros acreditam que há greenwashing nos relatórios de sustentabilidade.
A sustentabilidade na indústria não será alcançada apenas com boas intenções. É preciso abrir os dados, mostrar o impacto, ouvir as partes interessadas e se comprometer com melhorias contínuas. A transparência, nesse contexto, deixa de ser um diferencial para se tornar alicerce da confiança e da inovação.
É hora de combater o greenwashing com fatos — e construir uma indústria onde a sustentabilidade seja visível, verificável e verdadeira.