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Indústria 4.0 e sustentabilidade empresarial: uma análise exploratória de possíveis impactos no contexto brasileiro

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Estudo analisa os impactos da Indústria 4.0 na sustentabilidade corporativa dentro do contexto brasileiro.

Para realizar o estudo, foi feita uma revisão da literatura e identificado 12 impactos para estruturar um questionário, que foi aplicado com pesquisadores brasileiros experientes.

Os dados foram analisados por meio de Análise Hierárquica de Cluster, Estatística Descritiva e TOPSIS, o que permitiu a ordenação dos impactos. É importante ressaltar que todos os impactos apresentados serão evidentes no contexto brasileiro em um horizonte de dez anos.

Desses impactos, destacam-se seis: a redução das ofertas de emprego para atividades manuais e repetitivas e o surgimento de novas profissões de alto valor agregado, o surgimento de negócios inovadores, a redução dos acidentes de trabalho devido à ampliação do uso de robôs em tarefas perigosas para o ser humano, problemas com o ritmo de qualificação dos funcionários nas mudanças de modernização necessárias, a integração de todas as atividades da cadeia de valor, permitindo uma melhor análise dos impactos ambientais, sociais e económicos, e melhorias na ergonomia física e cognitiva devido ao uso de sensores.

Essas descobertas podem contribuir para a ampliação dos debates relacionados ao tema e podem ser utilizadas como base para a definição de futuras políticas industriais no Brasil.

Pilares da Indústria 4.0

A Indústria 4.0 é caracterizada por seis princípios: interoperabilidade, virtualização, descentralização, capacidade em tempo real, orientação a serviços e modularidade. 

Com base nesses seis princípios, são definidos os seguintes pilares como conceitos da Indústria 4.0, que podem ser adotados pelas empresas: Sistemas Ciber-Físicos (CPS), Internet das Coisas (IoT), Internet de Serviços (IoS), Veículos Autônomos, Impressoras 3D, Robôs Avançados, Inteligência Artificial, Big Data, Cloud Computing, Realidade Virtual e Aumentada, Nanomateriais e Nano sensores, entre outros. Esses conceitos podem melhorar a produtividade e a gestão das atividades da empresa.

De acordo com Patrícia Siltori, uma das autoras do estudo, “o maior obstáculo que as organizações enfrentam ao implementar a Indústria 4.0 está relacionado à complexidade da integração de tecnologias. Muitas organizações possuem sistemas operacionais e de gestão estabelecidos e que são considerados sistemas legados”.

O apoio governamental é essencial na transição para o digital. Um exemplo interessante é o caso da Comissão Europeia, que está criando um ambiente que permite novos modelos de negócios digitais (Comissão Europeia, 2015). No Brasil, essa abordagem ainda é superficial, e o setor industrial precisa ser ágil para evitar uma grande lacuna de competitividade em relação a outras nações.

Apesar de sua relevância entre os países emergentes, a indústria brasileira tem enfrentado diversos desafios nos últimos anos que podem comprometer os investimentos necessários relacionados às tecnologias da Indústria 4.0. Alguns dos principais desafios são investimentos em novos equipamentos e atualização dos existentes, mudanças em layouts e processos, mudanças nas relações entre empresas, problemas com ofertas de emprego e desenvolvimento de novos produtos. 

Hoje, poucas empresas brasileiras estão preparadas para todas as mudanças necessárias. Mas essa não é uma característica exclusiva das empresas brasileiras, uma vez que organizações de diferentes países precisam realizar mudanças drásticas. Os desafios podem ser mais acentuados para os mercados emergentes, devido à menor capacidade financeira para investimentos de muitas empresas (especialmente pequenas e médias empresas) nestes países e à maior instabilidade destas economias.

O impacto dos conceitos da Indústria 4.0 nas atividades empresariais gera muitos debates. Dentre eles, destacam-se os estudos relacionados à sustentabilidade. Apesar da importância do tema sustentabilidade para a Indústria 4.0, diversas empresas ainda consideram a sustentabilidade em segundo plano quando definem suas estratégias de digitalização. Quanto à dimensão social, é necessário avaliar as qualificações necessárias dos funcionários no contexto tecnológico. 

Com base nessas informações, o estudo analisa os possíveis impactos da adoção dos conceitos da Indústria 4.0 nas empresas brasileiras, considerando aspectos ambientais e sociais.

Resultados do estudo

Os resultados obtidos evidenciam os seis impactos que serão mais observados no contexto das empresas brasileiras, considerando um horizonte de dez anos. A primeira delas está relacionada ao surgimento de profissões de alto valor agregado e à necessidade de maior qualificação dos funcionários. A Confederação Nacional da Indústria do Brasil (CNI) defende que a inclusão das tecnologias da Indústria 4.0 vai exigir mudanças no perfil dos trabalhadores brasileiros, que devem ser mais qualificados. Ela também aponta a necessidade de as empresas brasileiras minimizarem tarefas manuais em seus processos e aumentarem o conhecimento dos funcionários.

Segundo Patrícia, algumas ações importantes podem ser tomadas, de modo a minimizar os problemas sociais causados pelo avanço da Indústria 4.0. “Há vários aspectos que podem ser considerados, como, por exemplo, a capacitação, políticas inclusivas e responsabilidade social. Abordando de forma abrangente e voltada para a comunidade em si, investir em programas de capacitação, “reciclagem” e qualificação será um caminho. Preparar o profissional para os novos desafios tecnológicos pode garantir que ele continuará no mercado com toda a bagagem de antes e com uma “expansão” de novas ideias. Essa política demonstra, que a inserção de tecnologias só ocorre com sucesso, investindo no bem mais valioso de uma organização: o seu capital humano”, explica.

O segundo impacto classificado é sobre os novos modelos de negócios que poderão surgir no Brasil nos próximos dez anos devido aos conceitos da Indústria 4.0. Os países emergentes precisarão investir em tecnologias e, como resultado, surgirão novos modelos de negócios.

O terceiro impacto mais bem classificado, também corroborado pela CNI, é a expansão da automação industrial. Os robôs poderão substituir os humanos em tarefas consideradas perigosas e, consequentemente, haverá uma redução no número de acidentes de trabalho quando comparados aos processos atuais.

A empregabilidade também ganha destaque no ranking. Conforme mencionado anteriormente, a adoção do conceito da Indústria 4.0 pode fazer com que um número menor de empregos esteja disponível para os funcionários brasileiros. Nesse sentido, é importante destacar que os fatores sociais não podem ser negligenciados durante a implementação da Indústria 4.0. As mudanças serão significativas e exigirão ações governamentais, a fim de minimizar consequências sociais negativas.

A integração de todas as etapas de uma cadeia produtiva também ganhou destaque no ranking. De acordo com a CNI, as tecnologias da Indústria 4.0 terão um impacto intensivo em toda a cadeia de valor, desde o desenvolvimento do produto até o consumo, eliminação e reciclagem.

Na sexta posição é possível observar os impactos associados à ergonomia física e cognitiva. As tecnologias vão permitir que as empresas avaliem melhor os processos e reduzam os danos aos funcionários, incluindo questões físicas e psicológicas.

Diante dos resultados mencionados e da atual realidade brasileira, há muitos desafios a serem superados. Em especial, os desafios sociais exigem mais magnitude e ações de longo prazo para que seus resultados sejam efetivos. “Os próximos passos após a publicação desses resultados, está em transformar os “achados” em ações tangíveis. É imprescindível que pesquisas como esta sejam apresentadas às partes interessadas, bem como empresas, órgãos governamentais e a área acadêmica. Todo esse debate de conhecimento promove a disseminação de informações e ideias, e é crucial no desenvolvimento de estratégias”, finaliza Patrícia.

O artigo completo pode ser conferido aqui.

A entrevista completa com a Patrícia pode ser conferida aqui.

1- Na sua opinião, qual o maior obstáculo para a implementação da Indústria 4.0?

R: Na minha visão, o maior obstáculo que as organizações enfrentam ao implementar a Indústria 4.0 está relacionado à complexidade da integração de tecnologias. Muitas organizações possuem sistemas operacionais e de gestão estabelecidos e que são considerados sistemas legados. Tais sistemas muitas vezes, podem ser robustos e ter limitações quando falamos de integração com as tecnologias inovadoras da Indústria 4.0. E para integrar, os investimentos são significativos e necessitam de habilidade técnica especializada, garantindo uma transição eficiente e contínua.

A mesma perspectiva de desafio ocorre nas pequenas empresas. Os obstáculos estão relacionados a recursos financeiros limitados e principalmente a resistência às mudanças. Além disso, a falta de conhecimento interno por parte dos colaboradores pode estabelecer “limitações adicionais”. 

Por fim, acredito que a capacidade de superar as barreiras de integração, preparar e envolver a equipe será crucial para desbloquear todo o potencial transformador que a Indústria 4.0 oferece.

2- O que pode ser feito para minimizar os problemas sociais causados pelos avanços da Indústria 4.0?”

R: Bom, a meu ver quando olhamos para a perspectiva social, se torna algo relevante e sensível. Há vários aspectos que podem ser considerados, como exemplo: a capacitação, políticas inclusivas e responsabilidade social. Abordando de forma abrangente e voltada para a comunidade em si, investir em programas de capacitação, “reciclagem” e qualificação será um caminho. Preparar o profissional para os novos desafios tecnológicos pode garantir que ele (a) continuará no mercado com toda a bagagem de antes e com uma “expansão” de novas ideias. Essa política demonstra, que a inserção de tecnologias só ocorre com sucesso, investindo no bem mais valioso de uma organização: o seu capital humano. 

Quando falamos de políticas inclusivas, é basicamente promover a equidade. Gerar novas oportunidades nos processos seletivos e incluir a diversidade, bem como as iniciativas que apoiem de certa forma colaboradores que ainda não tenham acesso às informações dessa transição da Indústria 4.0.

Por fim, e não menos importante, acredito que a responsabilidade social das empresas pode ter um impacto positivo. Investir em iniciativas que auxiliam as comunidades em volta, pode garantir o desenvolvimento, avanço das tecnologias e o crescimento econômico, resultando no bem-estar social tanto dos colaboradores como da comunidade em si.

3- O Brasil está muito atrasado em relação a outros países no avanço da Indústria 4.0? 

R: Nesse aspecto eu acredito em uma abordagem “equilibrada”, onde podemos considerar tantos os desafios e as oportunidades no Brasil. Embora seja fato que alguns países estejam à frente da Indústria 4.0, não diria necessariamente que o Brasil está “atrasado”, pois o crescimento e o aumento das tecnologias é algo dinâmico e pode sofrer variações dependendo do setor. Porém, é fato que o país enfrenta desafios que vão desde a infraestrutura tecnológica e a necessidade de altos investimentos.

Outro ponto de destaque, é que nosso país possui uma base industrial sólida e recursos valiosos. Isso faz com que tenhamos a oportunidade de implementação eficiente de tecnologias voltadas para a 4.0, ou seja, estamos em avanço significativo em setores industriais específicos. 

Esse fato pode ser crucial quando pensamos em um ambiente de inovação, com políticas que incentivam a pesquisa, desenvolvimento e investimento tanto de setores públicos como privados. Tenho convicção que o Brasil tem grande potencial para alcançar outros países em relação a inovação e se adequar para a “Era da transformação digital”.

4- Qual a importância de um estudo como esse para o país?

R: Quando avaliei e desenvolvi essa pesquisa, a motivação inicial era contribuir para o desenvolvimento econômico, social, ambiental e tecnológico do país. Ao me deparar com os impactos advindos da Indústria 4.0, verifiquei que os achados poderiam desempenhar um papel crucial em diversas frentes. Uma delas, seria a visão dos desafios que a Indústria 4.0 apresenta quando olhamos para a economia brasileira. Isso demonstra a necessidade de políticas públicas e estratégicas para preparar as organizações a tomarem decisões durante o processo de transição.

Para os impactos sociais, a pesquisa poderia auxiliar na criação de políticas que minimizem os efeitos na sociedade, promovendo uma transição inclusiva é benéfica a todos os envolvidos. Acredito que esse aspecto será vital para promover a igualdade. 

No contexto ambiental, a ideia era proporcionar uma compreensão mais profunda de como as tecnologias podem influenciar na sustentabilidade empresarial. Além disso, auxiliar no desenvolvimento de estratégias que vão de encontro às práticas ecologicamente “corretas”. 

Em relação a tecnologia, este estudo pode ser utilizado na influência da adoção de tecnologias relacionadas a Indústria 4.0, bem como impulsionar na adoção de inovação para aumentar a competitividade de organizações brasileiras em nível global.

Em resumo, ao demonstrar os impactos foi possível criar uma “orientação” em relação às decisões estratégicas e de certa forma contribuir para o avanço econômico, social, ambiental e tecnológico do Brasil na Indústria 4.0.

5- Quais os próximos passos agora, após a publicação desses resultados?

Os próximos passos após a publicação desses resultados, está em transformar os “achados” em ações tangíveis. É imprescindível que pesquisas como esta sejam apresentadas às partes interessadas, bem como empresas, órgãos governamentais e a área acadêmica. Todo esse debate de conhecimento promove a disseminação de informações e ideias, e é crucial no desenvolvimento de estratégias. 

Além disso, minhas pesquisas continuam evoluindo, pois considero essencial continuar monitorando a Indústria 4.0 no Brasil. Ao longo dos anos, o cenário tecnológico e industrial sofreu mudanças dinâmicas, e avaliar tais aspectos pode de certa forma, beneficiar o desenvolvimento socioeconômico do Brasil, transformando a pesquisa em ações concretas nas organizações.

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