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A Nova Rota da Seda e a indústria brasileira: há risco de desindustrialização?

3 min de leitura

Desde 2013, a Nova Rota da Seda — ou Iniciativa Cinturão e Rota (BRI, na sigla em inglês) — vem redesenhando o mapa geoeconômico global. Este ambicioso projeto geopolítico e econômico, liderado pela China e lançado oficialmente em 2013 pelo presidente Xi Jinping, visa criar uma rede global de infraestrutura e comércio, conectando a China à Ásia, Europa, África e, em menor escala, à América Latina. A ideia é facilitar o comércio e expandir a influência econômica e política chinesa pelo mundo.

Apesar do Brasil não ter aderido oficialmente ao projeto, os efeitos da expansão chinesa já são palpáveis em nossa economia. E mais: vêm alterando de forma estrutural a indústria nacional.

Investimentos chineses chegam ao Brasil com força em infraestrutura, energia, telecomunicações e mobilidade. Empresas como Huawei e BYD estão se estabelecendo com rapidez e escala, liderando setores que definem o futuro industrial: baterias elétricas, 5G e painéis solares. Em paralelo, assistimos à retração de grandes indústrias nacionais e multinacionais. Um exemplo emblemático foi o encerramento das operações da LG no Brasil, enquanto players asiáticos avançam.

Continue a leitura a seguir e saiba mais.

Mas o que isso significa para a indústria brasileira?

Apesar dos aportes bilionários, o Brasil tem colhido poucos ganhos estratégicos. A balança comercial reflete esse desequilíbrio: cerca de 85% das exportações para a China são commodities — como soja, minério de ferro e petróleo bruto, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). Já as importações são, em sua maioria, produtos manufaturados com alto valor agregado. Essa lógica aprofunda uma dependência que não é nova, mas que ganha novos contornos diante do protagonismo chinês.

O risco aqui não é apenas econômico — é também estrutural. O país segue sendo fornecedor de matéria-prima e consumidor de tecnologia, em vez de protagonista na cadeia de inovação. Essa trajetória fragiliza a indústria nacional, mina empregos qualificados e compromete o desenvolvimento tecnológico.

 Cooperação, sim. Mas com estratégia

Não se trata de rejeitar os investimentos chineses, mas de repensar como o Brasil se posiciona nessa relação. É preciso abandonar o papel passivo e assumir uma postura mais estratégica. Isso significa negociar acordos que envolvam transferência de tecnologia, parcerias industriais reais e conteúdo local obrigatório em projetos financiados por capital externo.

Áreas sensíveis, como defesa e energia, também merecem atenção especial. A abertura irrestrita desses setores pode comprometer a autonomia nacional e limitar o controle sobre ativos estratégicos no longo prazo.

Além disso, é essencial diversificar as relações comerciais. Apostar em um único parceiro — ainda que poderoso — é sempre arriscado. Acordos com países da Europa, América Latina e outras economias emergentes podem fortalecer a posição do Brasil em cadeias globais mais equilibradas e tecnológicas.

Oportunidade para o Brasil

Apesar dos riscos, o momento é também uma oportunidade. A transição energética, a digitalização industrial e a demanda por tecnologias limpas abrem espaço para o Brasil desenvolver competências únicas. 

Temos vantagens em setores como bioenergia, agritech, mineração sustentável e inovação em saúde. Com políticas industriais adequadas e investimentos em pesquisa, é possível transformar essas vantagens em protagonismo.

A Nova Rota da Seda está no Brasil — mesmo sem adesão formal. E seus efeitos já são visíveis na nossa indústria. O risco de desindustrialização existe, mas não é inevitável. O caminho passa por equilibrar cooperação com autonomia, exigindo contrapartidas estratégicas e apostando em setores onde podemos liderar. 

Mais do que resistir, é hora de agir com inteligência.

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