Na última quarta-feira (25), aconteceu a 15ª edição do Dia da Engenharia Brasil-Alemanha. O tradicional encontro anual realizado pela VDI-Brasil, para debater sobre engenharia, Indústria 4.0 e sustentabilidade aconteceu em São Paulo, para um público de cerca de 200 pessoas entre engenheiros, diretores, gerentes, entre outros membros de instituições nacionais e internacionais.
Neste ano, o evento teve como tema “Engenharia Verde e Capacitação na Era Digital” e contou com uma programação que reuniu mais de 20 participantes com apresentações, debates, cases e palestras que abordaram as tendências sobre o tema.
Cerimônia de abertura destaca laços entre Brasil e Alemanha
A abertura do evento ficou a cargo do presidente da VDI-Brasil, Mauricio Muramoto, e de Adrian Willig, diretor da VDI na Alemanha, que ressaltaram a importância da cooperação entre os países para o desenvolvimento de tecnologias e soluções.
“É muito bom estar em mais uma edição deste grande evento reunindo tantas mentes brilhantes. Agora, mais do que nunca, nós aprendemos a importância do contato físico e da proximidade das pessoas, e o Dia da Engenharia é uma ótima oportunidade para nos encontrarmos e trocarmos experiências”, apontou Muramoto.
Com sua participação de maneira remota, Willig complementou a fala de Muramoto trazendo um pouco sobre o papel do engenheiro nos dias atuais e para o futuro. “Nós da Alemanha temos uma parceria baseada em cooperação, amizade e confiança com o Brasil. Essa parceria é a base para ampliar os horizontes dos engenheiros e assim criar soluções para enfrentar os desafios do futuro.”
Para concluir a cerimônia de abertura e dar início à programação do evento, Muramoto convidou o cônsul-geral da Alemanha em São Paulo, Joseph Weiss, que reforçou os laços entre Brasil e Alemanha.
Transformando Riscos em Oportunidades: Emissões de CO2
A primeira palestra do 15º DEBA “Transformando Riscos em Oportunidades: Emissões de CO2” foi conduzida por José Gonçalves, gerente executivo do SENAI CIMATEC, e tratou sobre mitigar as emissões de dióxido de carbono.
O dióxido de carbono é essencial para a vida na Terra, no entanto sua concentração em altos níveis coloca em risco a vida humana no planeta. O crescimento econômico e populacional contínuo impulsionou o aumento das emissões de CO2, criando um cenário que necessita de controle de emissões para não alcançar níveis exorbitantes nos próximos anos.
Sob essa ótica, José Gonçalves apresentou gráficos que ilustravam o crescimento recorrente de emissões nos últimos anos, além de destacar como a produção de energia limpa, sobretudo o hidrogênio verde, é uma alternativa para mitigar as emissões e assim diminuir o impacto.
“A indústria do petróleo é antiga e por isso tivemos tempo de desenvolver muitas tecnologias para ela, mas agora estamos fazendo isso com o hidrogênio verde e a ideia é ir substituindo os combustíveis fósseis e deixar o petróleo para a indústria petroquímica, que tem um papel importante”, apontou Gonçalves.
Gonçalves concluiu sua apresentação falando sobre o mapa do Hidrogênio Verde na Bahia, realizado pelo SENAI CIMATEC para identificar as regiões da Bahia com maior potencial para a produção do combustível, feito a partir de fontes de energia limpas, como também o mapeamento da cadeia produtiva associada e uma avaliação da regulação, padronização e certificação global.
Case BASF – Fábrica sustentável e inovadora
A próxima apresentação tratou sobre o case da BASF de fábrica sustentável e inovadora. Conduzido por Vera Felbermayer, vice-presidente da BASF e da VDI-Brasil, a apresentação trouxe dados importantes referentes à sustentabilidade e produtividade.
Um dos pontos centrais mencionados durante a apresentação do case foi o sistema integrado da BASF chamado ‘Verbund’. O conceito é utilizado pela empresa para considerar uma visão sistêmica de negócio, operá-lo de forma integrada e fazer uso eficiente de recursos, ao mesmo tempo em que integra suas plantas de produção, fluxos de energia e materiais, logística e infraestrutura. O quadro de integração é único porque o sistema não se concentra apenas nos produtos, na informação e no fluxo financeiro, mas também nos subprodutos, nos resíduos, na energia, na tecnologia e em tudo o que entra e sai da cadeia de valor. Isto cria valor em toda a cadeia de fornecimento para parceiros, fornecedores, distribuidores e consumidores da BASF.
“Inovação é a chave para o futuro da BASF. Para criar um mundo sustentável temos que combinar as tecnologias, consumir menos energia, apresentar maior produtividade e conservar recursos. Assim economizamos em termos de matérias-primas e energia, minimizamos as emissões, cortamos os custos logísticos e exploramos sinergias” afirmou Felbermayer.
Por último, Felbermayer citou a meta da empresa em reduzir em 25% a emissão de CO2 em 2030 – em comparação com 2018 – e, de emissão zero em 2050.
Case iConnect – Geomonitoramento com drones
Dando sequência à programação, foi realizado o painel de apresentação dos resultados do iConnect – um programa que tem como objetivo promover o trabalho em cooperação entre estudantes brasileiros e alemães com o intuito de desenvolver soluções que contribuam para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU).
Neste ano, o programa está em sua segunda edição, em que os participantes estão trabalhando para construir uma solução sustentável, modular e de baixo custo com uso de drones e visão computacional.
A apresentação do case foi separada em dois momentos, a primeira parte contou com a presença de Luiz Torre, diretor geral da ifm, Manuel Gonçalves, diretor de engenharia da Voyth Hydro e VP da VDI-Brasil, e Thomas Kiefer, coordenador de Relações Internacionais da VDI, na Alemanha e coordenador do Projeto iConnect.
Nesta primeira etapa, os participantes abordaram sobre os benefícios do networking e trabalho cooperativo realizado de maneira presencial, uma vez que o programa tem atividades realizadas in loco na Alemanha e no Brasil. Do lado alemão, Thomas Kiefer apontou para a necessidade de projetos internacionais “desafios globais exigem soluções globais e, neste sentido, um projeto internacional deste porte é fundamental”.
Outro ponto destacado foi a proximidade entre universidade e empresa para o desenvolvimento de soluções. “Na Alemanha é muito comum essa troca entre as instituições de ensino e a indústria, essa é uma das explicações para o avanço do país”, afirmou Manuel Gonçalves. Em complemento, Luiz Torre destacou que “um grande benefício do iConnect é o desenvolvimento do colaborador, pois ele tem a possibilidade de interagir com membros de outras equipes e empresas, e isso é muito enriquecedor”.
No segundo momento da apresentação, os participantes do programa Cavour Martinelli (ifm electronic), Leandro Nataletti (Lanxess), Rodrigo Andrade (Bosch), Fabio Hadano (Bosch) e Maria Yokota (Ford e Facens), explicaram a parte técnica do programa, apresentando as etapas de trabalho e próximos passos.
A solução desenvolvida pela equipe consiste em um drone equipado com sensores que monitoram o ambiente recolhendo dados que possibilitam a mensuração do nível de CO2 no local e enviam esses dados para um dashboard, permitindo a análise e criação de um banco de dados. Dentre os desafios da equipe estava o desenvolvimento de um compartimento para inserir os sensores no drone, de forma que não interferisse no voo do drone.
Os próximos passos do programa incluem planejamento de novas amostragens, otimização de hardware, processamento de dados comparativos de emissões de CO2, caracterização de sensores, escalabilidade do projeto e aprendizado de máquina.
Saiba mais sobre os resultados do programa em https://www.youtube.com/watch?v=JB3kFnZCIk8
Qualificação e Retenção de Talentos em meio à Indústria 4.0
O último painel do evento, recebeu Jose Cappuccelli, CEO da thyssenkrupp, Fábio Amaral, gerente de RH da Bosch, Robert Madersdorfer, gerente de Site e Negócios na Lanxess e VP da VDI-Brasil, e a moderação de Ana Cláudia Oliveira, VP de RH da Continental e VP da VDI-Brasil.
Com o tema ‘Qualificação e Retenção de Talentos em meio à Indústria 4.0’, a discussão focou na capacitação de pessoas, soft skills, retenção de talentos e outros tópicos relacionados à área de Recursos Humanos.
Dando início à discussão, Ana Oliveira apontou a necessidade de uma mudança de mindset por parte das empresas no sentido de priorizar habilidades pessoais e autênticas. “Conhecimento técnico é necessário, porém é mais fácil ensinar e capacitar pessoas neste sentido, já as habilidades comportamentais são mais difíceis de se desenvolver. Para isso temos que repensar valores e entender a realidade de cada um”.
Ainda sobre soft skills, Jose Cappuccelli complementou com a sua visão sobre como a autenticidade tem um papel fundamental na indústria e deve ser valorizada pelas empresas. “Soft skills são individuais e cada um possui as suas, na thyssenkrupp por exemplo, nós buscamos dar oportunidades para as pessoas serem quem elas são. Um dos grandes desafios é investir em lideranças e fazer isso chegar até o chão de fábrica, e por isso criamos programas para treinar essas lideranças e assim criar um ambiente mais acolhedor para que as pessoas falem suas ideias”.
A capacitação em relação à tecnologia também foi um assunto tratado na discussão. Sobre esse tópico, Fábio Amaral entende que o papel dos líderes é desmistificar o receio que alguns colaboradores podem ter de novas ferramentas. “Antigamente, nós assimilávamos tecnologia a produto, de um tempo para cá a tecnologia passou a ser software e o aprendizado é cada vez mais indispensável, por isso é necessário ensinar o que é a tecnologia e assim não criar medo de substituição do trabalho ou algo do tipo”.
Por último, Robert Madersdorfer concluiu a discussão com uma visão sobre a essência do que deve ser a capacitação e retenção de talentos nas empresas. “O que estamos debatendo não é algo novo, no fundo o que todas as gerações querem é oportunidade, por isso a empresa tem que ser transparente, alinhar as expectativas e principalmente incentivar o desempenho por meio do bom exemplo”. concluiu.
Prêmio Engenheiro do Ano
Para encerrar o 15º Dia da Engenharia Brasil-Alemanha com chave de ouro, foi realizada a entrega do 9º Prêmio Engenheiro do Ano. Trata-se de uma iniciativa que contempla engenheiros e engenheiras que trabalharam em iniciativas que contribuíram para a sociedade e para a engenharia.
Neste ano o prêmio foi entregue para Matheus Cardoso, engenheiro civil e sócio proprietário do Moradigna, um negócio social que busca mudar a vida de pessoas que moram em situação de insalubridade, por meio de reformas residenciais de forma acessível. O Moradigna foi criado em 2015 e já impactou mais de 2.5 mil pessoas com mais de 800 moradias reformadas.
A cerimônia de premiação foi realizada pela Adriana Silva, CEO da Balluff Brasil e VP Administrativa da VDI-Brasil, que salientou o quão importante a iniciativa criada por Matheus Cardoso é para a sociedade. “Estamos falando sobre transformação, é um projeto que muda a vida das pessoas e isso é algo muito positivo para a sociedade. Eu acredito que fomos muito felizes na escolha do prêmio deste ano, é esse tipo de trabalho que nos inspira muito”.
Em seu discurso, Matheus Cardoso agradeceu a equipe do Moradigna e ressaltou um dado alarmante sobre moradia no Brasil que serviu como ponto de partida para a criação do seu negócio. “Infelizmente, nós vivemos em uma realidade em que 40 milhões de brasileiros têm sua saúde prejudicada por conta das condições insalubres de suas residências e o Moradigna surgiu para resolver essa questão e oferecer melhores condições para essas pessoas. É muito gratificante ter esse reconhecimento que já premiou ações importantíssimas, isso é fruto do trabalho da nossa equipe incrível”, concluiu.
Por último, André Wulfhorst, Gerente Sênior de Desenvolvimento da Rede de Concessionários Mercedes-Benz do Brasil e VP Tesoureiro da VDI-Brasil, agradeceu a todos os participantes e palestrantes e conduziu a cerimônia de encerramento do evento, convidando todos os presentes a um coquetel.
