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Por que é necessário reestruturar o ensino da engenharia no Brasil?

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Uma das pautas recentes de universidades e empresas tem sido o aperfeiçoamento da formação de engenheiros. A proposta de reformulação dos cursos está sendo analisada pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) e tem como objetivo agregar mais flexibilidade, prática, inovação e empreendedorismo às formações do setor.

Nos últimos 15 anos, o número de graduados em engenharia aumentou 4 vezes, de 25 mil em 2001 para mais de 100 mil em 2016. Entretanto, não houve um impacto correspondente na capacidade de inovar do setor produtivo.

Cada vez mais, aumenta a preocupação sobre a formação deficiente dos engenheiros e a qualidade dos cursos. Em março, o Conselho Nacional de Educação (CNE) recebeu uma proposta de atualização das diretrizes curriculares para o curso de engenharia. Formulado pela Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI), fórum vinculado à Confederação Nacional da Indústria (CNI), e pela Associação Brasileira de Educação em Engenharia (Abenge), o documento propõe que a formação passe a se basear no desenvolvimento de competências e não apenas no domínio de conteúdos, sugere que o empreendedorismo se torne campo de atuação dos engenheiros, e aconselha mudanças na avaliação dos cursos, com adoção de parâmetros que mensurem o quanto os alunos aprenderam e o impacto dos egressos no mercado de trabalho.

Agora, o MEC analisa a proposta de reestruturação e a intenção é de que as mudanças sejam aplicadas já em 2019. O problema é o pouco tempo para realizar essas mudanças no ensino. Segundo o secretário de Educação Superior do MEC, Paulo Barone, se o CNE finalizar a análise do documento de proposta até o dia 31/8 (amanhã), a proposta poderá ser implementada em janeiro.

No mês passado (julho), saíram os resultados do ranking mundial de inovação – Global Innovation Index (GII) – que aponta o Brasil em uma situação quase estática frente aos demais países. Dessa forma, os avanços propostos nesse podem contribuir positivamente com os avanços do país. Um dos indicadores da pesquisa, que leva em conta as graduações em ciência e engenharia, classificou o Brasil em 79º lugar dentre 126 nações.

“Além de aprimorar o modelo de avaliação atual, defendemos a criação de um sistema de acreditação, capaz de avaliar os pontos fortes e fracos de cada curso e sugerir medidas para melhorá-los”, diz a socióloga Zil Miranda, assessora da CNI que coordenou o grupo de trabalho da MEI responsável pela proposta. Segundo Vanderli Fava de Oliveira, professor da Universidade Federal de Juiz de Fora e presidente da Abenge, um dos principais desafios é fazer com que os cursos privados, que foram o principal alvo da expansão recente, ofereçam formação com qualidade equivalente às universidades públicas. “Muitos foram criados oferecendo o mínimo necessário. É preciso criar incentivos para melhorar a qualidade dos cursos privados e uma política de financiamento estudantil que ajude os alunos a pagar por uma formação que é cara”, diz Vanderli. O professor participou de uma mesa redonda da VDI, nomeada iEngineer, e um dos temas debatidos foi justamente a formação dos engenheiros.

Segundo uma pesquisa realizada pela Fapesp, seis em cada 10 matrículas na graduação em engenharia vincula-se aos cursos noturnos e 90% dessas estão em instituições privadas. Já 85% das matrículas em cursos integrais estão em universidades públicas. Para uma formação sólida, o ideal seria que pelo menos uma parte da formação seja feita em período integral.

Dados compilados por Renato Pedrosa, professor do Instituto de Geociências da Unicamp, mostram que em 2015 o Brasil foi o quarto país com o maior número de diplomas de graduação nos campos de engenharia, manufatura e construção (105.931), atrás de Índia (817 mil), Estados Unidos (123 mil) e México (111 mil). Em muitas fontes, a China é mencionada por graduar mais de 1 milhão de engenheiros por ano, embora essas informações não constem das principais estatísticas nacionais. Em termos relativos, a situação do Brasil é menos favorável: diplomou 51 engenheiros por grupo de 100 mil habitantes em 2015, sendo superado por países como Coreia do Sul (157/100 mil), Chile (108) ou Alemanha (101).

O aumento das vagas dos cursos de engenharia atingiu um teto em 2015 e começou a diminuir no ano seguinte, por conta da recessão econômica. Segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) reunidos por Pedrosa, o número de ingressantes em cursos de engenharia em 2016 foi de 302 mil, ante o recorde de 352 mil em 2015. Em instituições públicas, o contingente caiu de 76 mil ingressantes para 64 mil, enquanto nas universidades particulares a queda foi de 276 mil para 237 mil. O número total de matriculados foi reduzido de 1,042 milhão para 1,006 milhão.

Outro ponto preocupante é o número relativamente baixo de engenheiros na pós-graduação, agravado pelo fato de a maioria dos doutores formados no país não encontrar opção atraente, a não ser trabalhar no setor privado. Johannes Klingnberg, diretor-executivo da Associação de Engenheiros Brasil-Alemanha (VDI-Brasil), diz que na Alemanha o caminho entre a pós-graduação e o setor privado é mais aberto. Oitenta por cento dos doutores em engenharia na Alemanha voltam para a indústria. Já no Brasil existe a visão de que doutorado é teórico e não vai agregar experiências às empresas”, observa. Para Eduardo Zancul, professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), a dinâmica do mercado de trabalho alemão explica a absorção de doutores. “No doutorado em engenharia na Alemanha, é comum pós-graduandos participarem de projetos de pesquisa e desenvolvimento (P&D) em cooperação com empresas. Com isso, a integração posterior em corporações é facilitada”, afirma.

Na percepção das empresas, o aperfeiçoamento da formação dos engenheiros deveria ser mais direcionado à solução de problemas. Um estudo qualitativo realizado em 2015 pela VDI-Brasil entrevistou 25 presidentes de empresas sobre as competências necessárias para auxiliar na implantação da manufatura avançada – um conjunto de tecnologias que sustentam processos industriais inteligentes. Uma das conclusões foi que, para trabalhar com tecnologias de complexidade crescente, os engenheiros precisam ter um perfil mais flexível do que o atual, além de saber atuar em equipes multidisciplinares. “A tendência é que engenheiros sejam contratados para atuar em projetos que demandam competência para trabalhar de forma colaborativa”, diz o engenheiro eletrônico Maurício Muramoto, vice-presidente da VDI Brasil. “O essencial para as empresas é que o engenheiro saiba aprender a aprender. A velocidade do avanço tecnológico disparou e o ciclo de vida dos produtos cai ano a ano”, afirma Muramoto.

 

Com informações de Revista Pesquisa FAPESP.

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